Muitas iniciativas e poucas acabativas
É assim que começa essa história sobre os vários projetos que já comecei e larguei pelo caminho.
Outro dia, eu e a minha mulher estávamos conversando sobre planos e sonhos. Em algum momento, com todo o carinho do mundo, ela começou a listar algumas das minhas iniciativas que simplesmente não tiveram uma “acabativa”. Foram morrendo aos poucos, esquecidas no meio do caminho, como um cachorro que caiu da mudança e ninguém notou.
Eu concordei. Sem drama, sem negação. Ela tava certa.
Já tive umas ideias muito boas que acabaram ficando só nisso: ideias. Não sei explicar o porquê. Não é falta de interesse, nem preguiça. É como se o gás inicial fosse alto demais e, quando a empolgação passa, sobra só uma sombra do plano. Talvez nem isso.
Tudo sempre começa com uma faísca: “Vou fundar uma fábrica de biscoitos!”
Nos dois primeiros meses, viro uma mistura de industrial, pesquisador e chef confeiteiro. Leio sobre o surgimento do biscoito na Europa medieval, calculo o custo dos fornos industriais, estudo as normas da Anvisa, comparo bolacha e biscoito segundo o IBGE, tento até registrar marca no INPI. Obsessão total. Aí, antes de completar seis meses, a ideia morre. Nem enterro tem. E o mais trágico: não testei uma única receita de biscoito. Já tô em outro projeto completamente aleatório. Tipo enriquecimento de urânio artesanal.
Desde criança sou assim. Com algumas exceções.
Fiz faculdade até o fim (e com louvor), fico anos na mesma empresa, visto a camisa, ouço os mesmos álbuns repetidamente e tenho um apego esquisito às mesmas rotinas. Quando o assunto é profissão ou estudo, meu cérebro ativa o modo “foco absoluto” sem nem pedir licença. Dou o meu máximo.
Mas quando é hobby, projeto pessoal, ideia paralela… Aí vira o looping criativo da minha vida: surge a ideia → empolgação descontrolada → estudo compulsivo → início empolgado → abandono silencioso.
A sorte é que agora eu tenho uma parceira que me ajuda a não desistir tão fácil.
A Bianca tem me ensinado a ser mais constante, mais intencional. A não ir com tanta sede ao pote como se fosse a última água do planeta. A não transformar o hobby em mais uma cobrança — mas também a não deixar ele escorrer pelo ralo da empolgação.
Tem funcionado. Aos poucos, tô reaprendendo a manter o pé no chão sem sufocar a criatividade. A seguir até o fim, mesmo que devagar.
Porque, no fundo, acho que todo mundo passa por isso em algum grau. Todo mundo tem aquele curso da Udemy ou Hotmart que ficou pela metade, aquele canal no YouTube que nunca vingou, aquela guitarra encostada que um dia foi “projeto musical”.
A vida é cheia de começos. Mas tem um prazer diferente em ver algo chegar até o fim.
E é esse prazer que eu tô tentando redescobrir.